segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Sobre o amor, ah o amor…



Não me atrevo a entendê-lo
Nem tampouco descrevê-lo
Tento
No momento
Contemplá-lo com muito zelo
É algo transverso
Cheio de verso
Eu não sei bem
Como se tem
Acontece
Não se pede
Só desejo
Ensejo com muito medo
Cá estou
Frio na barriga
Quem diria
Efeito rebote
Me sacode
Outro portal
Sem pedestal
Sei lá, sem rumo
Sem noção nem direção
O que é? O que quer?
Só sei que bem- me-quer
Na dúvida me entrego
E a chance?
De romance
Quantas temos…
Vale a pena
A  alma não é pequena
Vambora
Faz da vida um poema
Entra em cena
Vive, se joga
Ri e chora
Porque um dia
Ah um dia qualquer
Nem precisa ser um momento de mal-me-quer
As cortinas se fecham
As luzes se apagam
E tudo que foi e aquilo que será
Um dia se vai, um dia findará
Ah… o amor, hum… o sexo!
Nem sempre é tudo desconexo
Quanto a mim
Tenho vivido de tanto rir
Já não sabia como era ser assim!
Afinal, fez macumba pra mim?

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Inusitado

não esperava por isso nem por nada
apenas caminhava
sozinha impaciente ciente
muitas vezes com a alma rara
outras com doces desejos
sonhando com intensos beijos

quando nada combina
penso na minha sina
e quando menos imagino
momentos inusitados
gente surpreendente
me sequestra o sorriso

gosto disso
nunca fui muito tentada a andar nos trilhos
eles sufocam os meus brios
mantenho meu charme intelectual
em romper com o que é tradicional

minha vida nunca foi estilo “Doriana”
muito menos se parecia
quem diria
tudo saiu exatamente com a alegria que eu queria
afinal é tudo magia

então pra que me preocupar
com o altar?
se não tenho que me ocupar em fazer par
a surpresa me embala
o desejo me convida
e eu ímpar
somente brindo a vida

amanhã quem sabe
embarco em nova nave
descubro em outro cais
quero mais
e aí, bem... aí
que venha 2011
não preciso saber demais

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Paradoxo de aniversário

Hoje eu chorei

Chorei por todas as ausências, os abraços não recebidos, os beijos interrompidos, as mensagens e ligações que nunca chegaram e que não chegarão mais

Porque hoje é meu aniversário

Hoje eu sorri

Sorri por todos os abraços, o carinho, os beijos, as mensagens e ligações recebidas e que jamais serão esquecidas

Porque hoje é meu aniversário

Hoje eu acordei com uma vontade enorme de ganhar flores, então eu chorei de novo

Porque hoje é meu aniversário

Hoje então no meio do trabalho eu desci e comprei flores pra mim, girassol e rosa vermelha, dentre as minhas preferidas só faltou a orquídea pra completar o trio das prediletas e então, eu sorri de novo

Porque hoje é meu aniversário, eu amo flores e tenho mais motivos para celebrar do que por lamentar. Porque flores marcam os rituais de nascimento, união e morte, então eu estou confusa, porque coisas nascem em mim, se fundem e outras morrem…

Hoje é meu aniversário! Então eu posso chorar e rir a hora que eu quiser, porque hoje é o meu aniversário. E então eu estou estranha, cheia de nada, vazia de verdades, porque aos 37 anos nada faz sentido pra mim, porque hoje é o meu aniversário. Talvez algumas cervejas geladas, um abraço apertado do meu filho e bons amigos ao redor façam algum sentido pela data de hoje. Talvez essa simplicidade seja o sentido da vida... talvez.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Desejo, divagações et cetera e tal

O desejo é um “cara” ousado, sem limite nem regra, que já chega tomando conta do seu corpo todo, da sua mente e sem que você possa decifrá-lo, é arrebatado por ele… Muitas vezes ele é inconfesso, insano, às vezes ele incendeia, outras é doce e raro. Em alguns momentos é lento, perpétuo e outros é denso, intenso. Porém, nunca tem lei e é sempre inexplicável, misteriosamente sem razão. Inexorável, implacável, incontrolável, assim ele é. Podemos não concretizar pela via da vontade, reprimindo as atitudes, mas ele, ele está lá, latente, ardente. Dizem que para se conhecer, o ser humano deveria aprofundar-se em conhecer os seus desejos mais tiranos. Eles são nossos guias anônimos, não confessos, e podem nos orientar ou nos sabotar por completo. Desvendá-los é um processo exigente.

Pois é, eu gosto de ter desejo, amo ser uma pessoa desejante, mas me sinto sem autonomia quando ele se manifesta. De certa forma, desgovernada, capturada por sua sedução, pelo encantamento que o ato de desejar provoca. Ei, isso é sempre uma aventura perigosa, duvidosa, incerta.

É lógico que só desejamos porque há carência, alguma coisa nos falta. Se não faltasse não desejaríamos, seríamos plenos, completos, perfeitos, um Deus. Portanto, desejamos porque somos finitos, imperfeitos, inacabados, incompletos, errantes… Jamais poderíamos saborear o gosto do vinho, tendo a boca sempre cheia dele.

George Bernard Shaw, dramaturgo, romancista, socialista e jornalista irlândes, falecido em 1950, já sabia desde essa época, que há duas tragédias na existência humana: “uma é quando nossos desejos não são satisfeitos; a outra é quando o são.” O cerne da ação da dramaturgia é sempre o conflito.

Quer saber, o ser humano problematiza tudo. Ô serzinho difícil! Se o desejo não é atendido, o filho da puta reclama, se é satisfeito entra em crise existencial. Tudo vira catástrofe. Se está sozinho, quer alguém bacana, interessante. Se está junto com uma pessoa legal, quer sair pelo mundo, se descobrir, analisar o que quer para sua vida. Porra! Ser humano “é muito complicado mesmo”, já dizia o Português do boteco quando mandou salaminho com queijo branco, enquanto havíamos pedido salaminho com queijo prato. Sim cacete, desejo é desejo e não tem muita explicação, queríamos assim, com queijo prato, e.x.a.t.a.m.e.n.t.e do jeitinho que desejamos, sem saber o “porquê”. O desejo não tem lógica, achamos que a química perfeita era essa: cerveja gelada, boa companhia, salaminho com queijo prato e pronto!

Acho que essa intriga em viver é o que me motiva a ser psicóloga, é tudo muito insensato. Tudo pode ser, tudo pode não ser… Tem um pouco de loucura nessa profissão, nessa escolha de trabalhar com esse objeto tão efêmero: o ser humano. A probabilidade das conexões entre as pessoas, a forma como elas se conhecem e se atraem, tudo nesse mundo gera questionamentos e mais ousadia em minhas ideias, tudo ferve em minha mente. Acho que é por isso que escrevo. Eu mesma, sempre efêmera nas minhas discussões, modifico as verdades que acredito a cada nova experiência vivida. O que acabei de falar já se modificou, hã, eu disse isso? Sou totalmente contestável, imprudente e insensata. Às vezes indecifrável até pra mim mesma.

Ultimamente ando muito sem juízo, me permitindo ser desafiada por valores e conceitos que construí pacientemente, para agora, descobrir que essa merda toda não vale nada. Agora estou aprendendo outras coisas, fazendo outras escolhas e experimentando novos desejos.

O problema do desejo é o tamanho, a dimensão e a intensidade dessa falta. Quando a fome é grande, tendemos a idolatrar a fonte de nutrição do nosso desejo, adulterando e divinizando o objeto da nossa fome. Por isso, de vez em quando é importante aprendermos sobre a plenitude sozinhos, tipo acampamento solitário, curtindo montar a própria barraca, cuidando de providenciar a própria comida, de férias dos outros e em conexão com os nossos desejos, saciados ou não, apenas identificando-os, acolhendo-os, ouvindo o barulho das nossas ideias e o eco dos nossos desejos. Passei um tempão experimentando fazer um monte de coisas que eu não costumava fazer sozinha. Viajei sozinha, fui ao cinema só, curti show sozinha e muitas outras coisas comigo mesma. Uma mixagem de medo e coragem, como uma sobreposição e combinação dessas forças num único som, em um novo repertório com novas nuances, tomaram conta de mim. Foi um período sensacional e voltarei a repetí-lo por muitas vezes e sempre. Me senti muito mais forte depois dessas experiências. Assim, andava tão saciada de mim mesma, que nem desejava desejar nada ou alguém. Não tinha fome, tinha juízo.

E agora? Agora esse tal de desejo me convidou pra dançar só pra me estontear. Sim, ando bastante atordoada com esse “cara”. Ele é novo, intrigante, interessante e me faz me sentir desejante e desejada. Gosto do jeito que ele sorri pra mim, com os ingressos na mão, me convidando pra vida. O nome dele? É DESEJO.

Nada mais sei sobre ele. Nada mais sei sobre mim mesma.

sábado, 25 de setembro de 2010

Já temos agenda para o próximo ano

Corre pra lá, depois pra cá, entre um intervalo e outro das funções laborativas, faço as ligações pendentes, lembro de comprar o remédio do meu filho, deposito um cheque no banco, respondo um e.mail, mostro que estou viva nas redes sociais digitais, leio um parágrafo do livro que quero terminar, contabilizo os meses e dias que larguei o cigarro, e... as unhas, não deu tempo, vai ficar por fazer. Ah, faltou ainda um monte de coisas e o dia já começa a dar sinais de que está por terminar e ainda, os cabelos brancos insistem em se expressar logo após a primeira semana do retoque da tintura. Certamente, um monte de coisas serão lançadas para a lista de afazeres de amanhã. 

Fico me perguntando o que é o tempo, como vivemos o tempo? Viajo pensando que ele não existe e nem é vivido, é apenas sentido. Estou envelhecendo, sinto que ele passa por mim e percebo que passo por ele, em alguns momentos nos encontramos. Às vezes não nos alcançamos, nem nos falamos, muitas vezes acho que não o toco, outras esqueço a minha idade. Tem dias que o cumprimento e o abençoo e outros que simplesmente o odeio, nem falo com ele, penso que ele não existe. Tem horas que até sentamos para conversar um pouco, em outros instantes só dá tempo de acenar um "tchau". O que importa mesmo é ter aprendido a não capturá-lo, mas sim a degustá-lo no ato vivido, sentido. Sinto-me muitas vezes como criança, outras com centenas de anos, em alguns fragmentos prepotente como adolescente, como se domasse o tempo. Adoro esse jogo perturbador do tempo em relação aos pensamentos, intenções e desejos. Às vezes tudo está desencontrado e outras bem bagunçado. Dificilmente tenho tudo arrumado, organizado, dentro de mim, no meu tempo e na minha vida.

O tempo para uma amiga no CTI, com a mesma idade que eu, com centenas de histórias e lembranças da infância, com saudades do que vivemos juntas e agora impregnado de compaixão, parece eternizar-se naquele hospital. Se ela estivesse aqui estaria vivendo, imagino, de forma atribulada, eletrizante e eletrizada, como eu, como a maioria de nós. Mas, fato é que está lá, adormecida numa cama de hospital e nós, apreensivos, a esperar por qualquer sinal de melhora, de recuperação. Como deve ser ficar entorpecida, insensível ao tempo que passa aqui fora, sem poder “governar” o seu próprio leme, o seu próprio tempo? Isso cruelmente tem mexido comigo, com a minha noção de tempo e, vem bagunçando ainda mais os meus botões, que já não são muito bem ajustados.

E nós, será que “gerenciamos” de verdade o nosso tempo? Os especialistas em RH dizem que sim, que isso é possível. Fazem apologia à gestão do tempo como se, aquele ou aquela que não consegue dar conta de tudo, é incapaz de estabelecer prioridades. Mas, quais são as prioridades, o que é mais importante para cada um de nós? Dar conta dos relatórios ou perder-se no tempo em um piquenique com o filho em meio aos sorrisos e festejos? Entregar-se ao ócio no fim de semana ou ser o primeiro funcionário do mês? Dedicar uma tarde para escrever uma poesia ou organizar todas as pendências para estar com “tudo em dia” para o início da semana? Curtir a noite ou aproveitar o dia seguinte cedinho com disposição? O dia tem 24 horas, nem um minuto a mais e nenhum a menos para ninguém. Questões, escolhas, formas de viver o tempo... Cada um o vive a seu gosto, de acordo com a sua preferência...

O que é o tempo? A expressão das rugas? A proximidade da morte? Intervalos ou períodos de duração? Ilusão, dimensão, calendário, lembranças, histórias, relógio? Plasticidade, simplicidade, engrenagem, passagem ou complexidade? Quem é esse tempo feroz que não se repete e que anuncia, que cada segundo passado não voltará? Se o tempo não se repete, nós também não. Então, cadê nós? O que passou já se foi, o que é agora já não será mais no próximo segundo, e o que será amanhã? Não sei, mas "Já temos agenda para o próximo ano".

Peraí, eu nem consegui cumprir todas as promessas e projetos idealizados no Reveillon passado e a papelaria já anunciou no cavalete na calçada: “Já temos agenda para o próximo ano”. No shopping, a vitrine enfeitada com árvores, luzes e bolas coloridas de Natal, anuncia que o Papai Noel já está a caminho e com ele o novo ano que se aproxima. Puta que o pariu!!!! Isso é muito sério porque eu ainda nem dei conta de todas as metas desse ano...

É isso, preciso voltar a aprender como era ser criança. Papai Noel, infância, expectativas pueris, experiências inusitadas, desejos simples, vontade de presentes, de viver o presente, a espera de surpresas... Crianças pequenas não tem noção de tempo e aquele que manifestou a loucura pode perdê-la. Talvez as crianças e os loucos sejam aqueles que mais sabem lidar com a vivência do tempo, pois só se dão conta dele como fator limitante e finito, quando o espetáculo acaba , quando a festa se encerra, quando as cortinas se fecham ou quando a vela do bolo é apagada. Enquanto isso, fato é que eles sabem viver o presente de forma infinita.

É bom ser criança ou tornar-se louco, só assim o anúncio: “Já temos agenda para o próximo ano” torna-se insignificante. E daí? As crianças e loucos não estão nem aí para as agendas que já estão sendo vendidas para o ano que vem. Eles não se perguntam se o beijo de hoje tem gosto de "e amanhã como será?". Eles simplesmente beijam com gosto de infinitude. E o abraço termina quando acaba, quando os músculos simplesmente e de forma espontânea desapertam o amasso, que deu laço nos braços e, enquanto isso, os braços estavam eternamente abertos para o outro entrar e depois, para sair, quando assim, fosse da vontade. E tudo isso é de uma beleza sem fim, sem agenda, sem prazo...

Então fodam-se as agendas para o próximo ano. Deixe-me meditar sobre o essencial e o insignificante. Deixe-me sozinha para vislumbrar a fugacidade do tempo e, inseguramente minha própria imagem desconcertante, mutável, fugaz...

E, por favor, deixe-me sem agenda para o próximo ano!!!

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Freio ABS, utilize sempre que necessário.


"Parar um automóvel repentinamente em uma rua escorregadia pode ser desafiador. Os sistemas de freios antitravamento (ABS, anti-lock braking system) diminuem o desafio dessa situação muitas vezes enervante. Em superfícies escorregadias, mesmo motoristas profissionais não conseguem parar tão rapidamente sem o sistema ABS se comparado a um motorista comum que conta com esse sistema."

Uma mulher em crise existencial pós término de um relacionamento vivencia algo bastante parecido com a citação acima, até as mais experientes.

Vejamos como funciona. Entender a teoria dos freios antitravamento é simples. Uma roda que desliza (a área da pegada do pneu escorrega em relação à estrada) tem menos aderência que uma roda que não está deslizando.

Se você mulher já ficou imobilizada no gelo ou na lama, sabe que se as rodas (do seu cérebro) estão girando em falso, você não tem tração, não consegue sair do lugar. Isso acontece porque a área de contato está deslizando em relação ao solo, você fica "sem chão", como costumamos dizer. Ao evitar o deslizamento das rodas durante a frenagem, os freios antitravamento beneficiam você de duas maneiras: você irá parar mais rápido de se esvair em lágrimas e fazer merda (torpedos, ligações nas madrugas, e.mails, DR`s infinitas, choques e exposições desnecessárias) e será capaz de mudar a trajetória da sua vida enquanto freia.

Realmente, artigo de primeira necessidade quando precisamos nos dar limites e finalmente convalescer dos acidentes de e no percurso e assim, retomar o rumo e direção de nossas vidas.

Pois é, muitas de nós, com a experiência e sabedoria típicas dos anos de colisões e muitos arranhões, diga-se de passagem, aprendemos a usar o freio ABS.

Passamos alguns momentos desgovernadas e, em outros imersas em experiências desgovernantes. A porrada ou a imobilidade é quase certa quando estamos nessa vibe.

Bem, vejamos como funciona no universo feminino. Essa é uma estratagema que consiste em realizar uma lista das coisas horrorooooooosas que o sujeitinho tem ou tinha (porque agora vc vai enterrá-lo de vez), quando o relacionamento acaba e precisamos esquecer a figura e realizar um nobre sepultamento. Sim, pretinho básico na viuvez mas pô, pode ser aquele curtinho e sensual, de preferência com óculos escuros porque além de fatal conseguimos esconder a cara inchada de tanto chorar. Ficamos de luto mas não morremos, o cara é quem se foi!

Pois é, essa lista em geral é realizada quando realmente nos sentimos como NPP. Isso mesmo: NPP, como dizia uma cliente minha: "Nitrato de Pó de Peido". Quando nos sentimos assim, colocamos o sujeito nas alturas e ficamos lá embaixo com pena de nós mesmas e começamos a acreditar que a figura é o último picolé do verão, a última bolacha do pacote ou a última peça daquela loja que amamos. Autoestima? O que é isso? Esquecemos do que se trata esse sentimento.

Porra, para e pensa: ao invés de lembrar do que ele tinha de bom, triturando mais ainda o coração, recordando os best moments e incorporando o papel de masoquista, chafurdando na lama ou no gelo, se toca e lembra do que não prestava no sujeitinho. Seja sádica, masoquista nunca. Hahahaha!

Lembrar por exemplo daquela "bundinha sofrida" que se dirigia ao banheiro enquanto você ainda estava deitada na cama depois dos melhores momentos é tudo. Acrescente-se à cena trágica as estrias, a cabeça careca, o brinquedo tamanho PP, os e.mails com erro de português, a pela-ovário da sua sogra, as batatadas que o carinha falava na frente de suas amigas, o humor de Seu Lunga quando você estava sem o menor saco pra aturar, as vezes que ele te deu um balão, as patifarias dele quando você estava linda e ele entortando a cabeça pra olhar aquela paraíba popozuda que acabou de passar, os momentos cruciais que ele não compareceu (em geral eram os mais importantes e necessários), a cueca de saco de batatas ou com freada de caminhão, as cenas de ciúmes irritantes e sufocantes, aquela barriga sentada no seu sofá no Domingo dada à bebedice enquanto você cheia de energia só queria sentir os seus cabelos ao vento numa praia, o fato do carinha não ter te escolhido mas sim aquela songamonga que nem se compara à você (denunciando o mau gosto dele), as crises de bebezinho fora de hora quando você teve um dia de cão no trabalho, enfim, a lista seria infinita... Cada uma que faça a sua interminável.

Portanto, freio ABS, sigla que metaforicamente traduzida ficaria assim descrita: "Asco de Bundinhas Sofridas".

Um brinde ao novo artigo feminino de libertação e renovação de vida. E, que as nossas bundas cresçam e que os nossos freios do discernimento funcionem, sempre!

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Desrazoável



É nascida sem razão
Pois só comporta emoção
A idéia do escritor original e independente
Torna-se comum em rodas de toda gente
O reconhecimento do valor
É inestimado, reconhecido pelo leitor
Não é um jogo de poder e nem faz parte de uma ideologia de cultura elevada
Basta um lápis e um papel, seguindo o fluxo de qualquer estrada
Não requer grau de refinamento
Apenas a contação do momento
Nesse processo ressurge a magia da criação
O blogueiro não conhece dependência em sua ação
Ele apenas escreve pela intuição
Aquilo que surge no coração
Desobrigado de prestar contas
Ele viaja e navega em suas ondas
O cotidiano social
Dinamiza as suas palavras em espiral
Um soberano da palavra
O blogueiro rompe com os códigos estabelecidos
Tocando até alguns corações adormecidos
De artista, criança, selvagem e louco todo mundo tem um pouco
Um refúgio euforizante é o que desejamos adiante
Chega de modelos universais
Gostamos de coisas transversais
Nas sondas da razão
Rejeitamos o que é padrão
Cansados do pensamento cartesiano
Tentamos reinventar a imaginação em outro plano
Nas rodas de poesias
Reeditamos todas as nossas heresias
Nosso produto não faz parte de uma indústria cultural
Ele é um acervo livre no universo virtual
Sei que muitos consideram admirável
Porque na verdade o que produzimos é desrazoável

Que essas rodas de poesia se multipliquem, ao vivo e virtualmente. Dedicado as queridas amigas que escrevem e publicam em seus blogs as suas poesias, poemas, histórias, devaneios e lições e que, em meio a essa “crise de cultura” conseguem produzir belas e consistentes palavras pelos descaminhos do século XXI.

sábado, 8 de maio de 2010

Mãe é adoção




Mãe é adoção
Aquela que não adota o filho
Mãe não se torna
E o filho joga fora

Mãe é adoção
Quando não há dedicação
Parir foi em vão
Filho precisa de atenção

Mãe é adoção
Se não for pra fazer feliz
A vida fica por um triz
E o sorriso não faz bis

Mãe é adoção
Amor é solução
Ser amado é tudo que se almeja
Pra vida não se tornar uma peleja

Mãe é adoção
O amor em outra versão
Duas almas em única conexão
Ligadas apenas ao coração

Mãe é adoção
Às vezes estamos no furacão
Outras num balão
Mas é sempre uma emoção

Mãe é adoção
É criar um super homem
Que ri e que chora
E se emociona vendo a aurora

Mãe é adoção
É acolher no sufoco
Pro filho não ficar oco
E forte encontrar uma resolução

Mãe é adoção
É ampliar a possibilidade
Pra no momento de dificuldade
Encontrar na fonte
Um outro horizonte

Mãe é adoção
Se assim não for
A vida fica ociosa
E não se torna preciosa

Mãe é adoção
Amor por opção
É viver num arco íris
A vida que sempre quis

Dedico essas linhas para todas as MÃES DE VERDADE, que adotaram os seus filhos, tendo estes laços biológicos ou não.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Maravilha de mulher, adormeça de vez em quando

Mulher Maravilha, um dia você desiste da tentativa de perfeição.

Largar o cigarro, entregar os projetos nos prazos, ser boa mãe, fazer mestrado, ser educada, estar presente na vida daqueles que amamos, não se atrasar para o trabalho, ser proativa no exercício de sua profissão, cozinhar bem, ser organizada, participar da vida social, manter o corpo em forma, correr, dançar, malhar, passear com o filho, estudar, responder os e.mails, ler um bom livro, arrumar o armário, ser criativa, assertiva, dinâmica, afetuosa, inteligente, ser boa amiga, ser solidária, trabalhar por um mundo mais justo, manter a simpatia e o sorriso no rosto.

Sabe aqueles dias que tudo que se quer é mandar a totalidade do que existe pro espaço, sem chance de reciclagem e aproveitamento? Tchaaaaaaaaaaaaaaaaaau pessoal!

Vou na esquina comprar um maço de cigarros e talvez não volte, mesmo não fumando mais. Se tivesse um pozinho mágico para sumir, certamente o utilizaria.

De vez em quando as mulheres deveriam ter o direito ao "dia do sumiço", sem ser solicitada ao trabalho, aos compromissos familiares, sem atender ao telefone, sem dar as caras nas redes sociais virtuais e presenciais. Um dia, só um dia, pra si mesma, como se fosse o último da sua vida.

Imagina poder comer qualquer coisa que tenha vontade ou alguém que se queira, rsrsrs. Falar qualquer besteira, fazer qualquer merda, rir de tudo e de todos, xingar quem se quer e amar quem se deseja. Sentar sem modos, não pentear os cabelos, beber todas. Um dia sem lei nem rotina, sem obrigação nem responsabilidade, puro princípio do prazer e do desejo.

Ei, ei acorda, foi apenas um sonho... Quando vi a capa vermelha estava estirada no chão. Sonhei que eu havia desistido da missão heróica de ser uma maravilha de mulher... Eu queimava em febre, o corpo suava, estava delirando, sentia frio e calor, corpo débil e cansado, exausto. Foi uma forte gripe...

Tudo bem, eu continuo tentando...

Acho que eu entendi tudo mesmo ao lembrar de uma fala recente do meu filho, de apenas 4 anos: “Mamãe, você sabia que cavaleiros e príncipes não gostam da Mulher Maravilha?”

Eu ponderei surpresa: “Nãaaaaaaaaaao meu filho? Mas por que?”

E ele respondeu com toda a sua pureza: “Porque ela já está acordada. Eles gostam mesmo é de acordar as princesas adormecidas”.

Acho que vou dormir de novo...


sábado, 24 de abril de 2010

Silêncio...



Eu sei, eu sei, o blog conta histórias, mas algumas vezes elas nascem em forma de poesias e poemas. Enquanto não acho o que desejo, me inspiro, fico em silêncio e escrevo...

Soma, trai, subtrai
Chega, aconchega
Sai, vem e vai
Some
Não come
Se aquieta
Me alimenta
Desperta
Porta aberta
Sem dó
Nem nó
Voo presa
Cilada do desejo
Ensejo
Quero
Não devo
Ainda dá tempo?
Vai, não vem
Fica
Pura descoberta
Me vejo coberta
Em lágrimas adormeço
O corpo fala
Sem ânimo adoece
A mente enlouquece
A voz cala
Silêncio...

terça-feira, 20 de abril de 2010

Descompasso



Abraços descontinuados
Beijos interrompidos
Desejos partidos
Sonho sem chão
Medo em vão
Alma presa
Coração se desprendeu
Controle não sei
Entregue se meteu
Confusão encontrei
Não sei o que me deu
Paciência me espera
Solidão me aconchega
Presente, minha vez
Sei que chega
A flor da pele
Se entrega
Poder de fogo, testa
Se suicida
Onde estás dono do meu desejo?
Aqui estou sem saída
Um pouco de brisa
Sopra vento
Me leva
Longe estou
Silêncio
Beijo, não liga
É tudo descompasso…

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Status de relacionamento? Híbrido


Uma vez era…

Um cara ou “o cara”. Tímido? Sei lá, achei ele até bem ousado!

Na dele? Talvez, mas ele tinha gana, determinação. Parecia saber o que quer.

O que é proibido, o que foi coibido, que desperta a libido, o que é então?

Mal casado? Não, ele é até “bem casado” e não sabe explicar não.

Se é assim, por que um affair? Despropositado? Parecia cheio de propósitos…

Pensei : será que a multiplicidade de vínculos, trajetórias e conexões na vida de um ser humano cabem num casamento?

Solteiros, casados, namorados, peguetes, descasados, enrolados, ficantes, amantes e amados. Vai saber…

A impressão que tenho é que as categorias não dão conta da nossa pluralidade.

Como gerenciar a nossa necessidade de criatividade, inovação e liberdade com as características embaladas no casamento, sob o rótulo igualmente sedutor , oferecendo rotina, equilíbrio, “segurança” e “exclusividade”?

Estrelas nos olhos é o que também queremos. Aquela sede insaciável é o que nos faz sentir vivos. A pele arrepiada é o que traduzimos como desejo. O novo, o despertar, somos curiosos, queremos des-cobrir, tirar o véu, mas também queremos pertencer.

Em geral, o que é uma pena, esses elementos acabam sucumbindo com o dia a dia de uma relação sob a placa: “casados”. Em lugar disso, o amor ou a defesa dele em nome da parceria, dos laços de amizade, de uma vida compartilhada.

Difícil isso! Acho que queremos mesmo tudo isso embrulhado num pacote só e, de preferência, com alguma pimenta.

Pode ser?

Isso, quero dose dupla, quero combo, promoções combinadas, não quero nada plano, excludente, linear, quero diversão e descanso, ousadia e respeito, colo e encorajamento, autonomia e aconchego, quero unir-me e também respirar, descoberta e pertencimento, agito e paz, liberdade e responsabilidade, quero aventura e amor.

Por que não?

Na verdade, somos um cruzamento de desejos de várias espécies, com diferentes elementos na sua composição. É o preço do mundo globalizado, da intensa carga de estímulos, dos movimentos de luta política. Temos homens na cozinha e mulheres nas corridas de stock car, temos pais criando filhos sozinhos e mulheres que não desejam ser mães. Fato é que estamos cada vez mais híbridos.

Mulheres que parecem “santas” tranformam-se em lobas selvagens em busca de “amor”. Homens ditos “canalhas” são verdadeiros gentleman que tratam bem e carinhosamente suas mulheres. Mulheres vestidas para matar que têm um verdadeiro coração cor-de-rosa. Homens misóginos se dizem apaixonados mas a verdade é que odeiam as suas mulheres. Temos tudo ao mesmo agora e queremos mais.

Temos heteros, bi, homossexuais, transexuais. Há metrossexuais e também mulheres que não pintam as unhas e nem os cabelos. Mulheres que matam baratas e homens que correm de inocentes morcegos. Temos famílias constituídas por 2 mães, nenhum pai, inter-racial, formada por kibutz. Nada mais é definido tal como era antes. Tudo desconstruído, novo, híbrido.

Nossa espécie evolui e se torna cada vez mais complexa, nossa personalidade está mais receptiva as diversas mudanças sociais e culturais. Flexibilidade e tolerância é o que se pede para a sobrevivência da nossa humanidade.

Assim, tal como os carros flex, utilizamos muito mais que uma fonte de energia para o nosso funcionamento. Associamos vários motores, integramos informações e sentimentos múltiplos. Nos tornamos híbridos e fato é que ainda não sabemos lidar com isso…

Hoje eu só quero um abraço, cheio de significados e que, contenha vários elementos, híbrido talvez…

O mundo pede cuidado



Uma vez era…

Uma rotina sob aparente controle. Agenda de trabalho, gerenciamento do tempo. Acorda, levanta, cronômetro conectado aos compromissos. Assim fica mais “fácil” viver. Tempo livre em casa, fazer o que? O que fazer? Ver os noticiários anunciando as desgraças e aumentando o sentimento de impotência? Sinto-me péssima.

Mediante o caos que está a cidade do Rio de Janeiro por conta das chuvas, a vida de todos nós transformou-se num caos. Perdemos o suposto direito de ir e vir. Alguns presos nos escombros e outros no trânsito. Abalo, medo e comoção é pouco para definir o sentimento da população. Involuntariamente estamos submersos em outra rotina, o encontro com o próprio self tornou-se inevitável. As desgraças naturais estão estampadas, a vida parece não valer muita coisa…

Impossível é parar de pensar no sentido da vida. Pensar na tragédia oriunda das intempéries, nas consequentes mortes, na própria vulnerabilidade da vida e, é claro, na condição de solidão que atravessa toda essa situação.

A vida é imprevisível e está sempre por um fio, por uma chuva, por um amor, por uma dor, por uma despedida às vezes sem chegada… e por todos os riscos que implica o processo de viver.

Quero meu controle remoto de volta!

Quero acreditar que posso planejar, prever, evitar, calcular e gerenciar.

Quero me sentir em equilíbrio de novo. Vida, natureza, devolva meu eixo.

Pouco tempo para nos recuperarmos, destruímos tudo, não preservamos, não nos ocupamos de cuidar da nossa casa, da nossa terra, do nosso lar.

A inclemência do tempo é a falta de suavidade, de sensibilidade de todos nós. A perturbação atmosférica é também a confusão mental de todos nós. Chuva devastadora, terremoto avassalador, o tempo está mexido com a nossa falta de tempo para cuidar. O tempo pede alma! O mundo precisa de calma, de cuidado, de todos nós.

A Onu calcula que no Haiti houve mais de 230 mil mortos. Aqui no Rio a chuva já provocou mais de 100 vítimas fatais.

Taí, esse é o mundo que construímos. Essa chuva tem a nossa participação, a nossa irresponsabilidade, a nossa falta de cuidado. Isso tudo é reflexo das nossas atitudes e/ou das nossa omissões. E agora?

terça-feira, 6 de abril de 2010

Quando um não quer, o outro quer

Uma vez era…

A pequena sob os meus cuidados contava apenas 6 anos. Sabedoria e astúcia são características marcantes em seu comportamento. Fato é que na sua história, elementos como rejeição sucedida por um abandono a tornaram filha de uma outra família, diferente da que a concebeu biologicamente.

Diagnosticada pela psiquiatria com "Transtorno Opositivo Desafiador", penso que ela só deseja fazer os adultos refletirem sobre simples coisas mundanas.

Ela adentra o meu consultório certo dia, manifesta tristeza em seu rostinho alvo branco e me questiona: “Tia Claudia, por que as pessoas brigam?”

Em seguida conta uma calorosa briga entre os pais e diz que já está na hora de reunir a família para um encontro de “brincadeiras”, só obedeço.

E vem a família. Cada um descreve suas opiniões sobre os motivos pelos quais as pessoas brigam. A pequena diz: “Porque um não empresta pro outro o que o outro quer emprestado” e continua: "as pessoas não sabem dividir as coisas", resumindo em uma linha o problema da humanidade.

As pessoas não querem emprestar seu tempo, sua paciência, sua compaixão, seu amor, seus ouvidos, seus pertences, suas crenças, suas opiniões, sua tolerância, sua intimidade. As pessoas não querem “prestar em” serviço do outro nada que supostamente lhe pertença.

Voltando ao setting terapêutico, o pai diz: “nós brigamos porque a sua mãe não queria conversar e eu sim, então continuei falando mesmo que ela não quisesse”.

A mãe rebate o pai indiretamente, dirigindo-se a filha e tentando lhe ensinar o conhecido ditado: “filha, quando um não quer…” e espera a complementação tradicionalmente conhecida. Mas, ela rompe o ditado com a sua fascinante imprevisibilidade infantil e continua: “… O OUTRO QUER”.

E ela quebra paradigmas, modifica ditos populares, busca novas respostas, arranca sorrisos, gera dúvidas, pondera as incertezas, torna os corações mais tolerantes e flexíveis, pois para ela a vida é assim: “ QUANDO UM NÃO QUER, O OUTRO QUER”, tal como foi a sua história de adoção.

Aquilo que não serve para uns, certamente será de grande valia na vida de muitos outros. E a pequena acima, cada vez mais linda e brilhante parece conhecer com sabedoria o fluxo da vida, que um dia almejamos alcançar com a maturidade.

Salve as pessoas, salve o mundo, recicle tudo, partilhe, transforme, preserve, repasse o que não se quer mais. Certamente em algum lugar, em algum momento, alguém precisa daquilo que já não te serve. Imagine um mundo assim e faça acontecer!

domingo, 21 de março de 2010

Brinca-dor



Uma vez era... uma manhã numa sala de espera de um centro cirúrgico, aguardando o filhote de 4 anos operar... um papel, uma caneta e algumas palavras soltas na mente, era tudo que me restava da conexão com o mundo real...

A possibilidade da des-graça de perder um ser amado nos faz perceber e empreender a importância de ver a graça da vida, das pessoas, dos momentos felizes.

Se pudesse descrever as sensações, diria que o coração desceu para o joelho, profundo, áspero, cerrado, denso e silencioso, perdeu a graça do caminhar por horas. Acho que algumas mães sabem o que isso significa. Apertado, sufoca e, de baixo pra cima, como um golpe, reprime e asfixia o peito, sobe um corpo sólido, compacto, pelo pescoço, ressentido, sem compaixão, parece uma faca atravessando a garganta, dói, esquenta a face e lança fugazmente pelo repositório das emoções o transbordamento de uma lágrima.

Mais pressão, ebulição, maior intensidade e implode o abrigo dos sentimentos. A porta foi arrombada. De assalto, o coração parece ser arrancado do peito por uma forte mão de ferro. Em suspenso, quase não respira, do tambor ecoa apenas uma flauta melancólica. Quero minha graça de volta. Me devolve, imploro!

No quarto, ele é um brinca-dor, aquele que brinca com a dor. Sempre foi assim, e mostra ao mundo: “eu acho que vou brincar de novo, outra vez”.

Brinca, brinca, brinca, meu João, meu palhação. Rodopia de “vestido” (curtindo a roupa do hospital), canta e dança, todos acham uma graça.

O mundo é feito de doce de leite, cremoso, derretendo, duro, mas sempre, sempre doce de leite, como diz sua avó, de fato, é uma grande graça.

Brinca, brinca, brinca, meu menino travesso, que encanta e se encanta com o mundo. Inocência é pouco diante dos olhinhos curiosos, que contém estrelas, que irradia amor e reedita sempre, a coragem de brincar com a dor, é uma graça.

Enquanto ele é um brinca-dor, eu sou um ser escreve-dor, cuida-dor e conta-dor, que estou aqui a contar e escrever esses momentos e, como sempre, a cuidar da dor. Cada um com a sua competência.

Amo-te meu filho. Seu especial senso de humor e de brincar com a dor, tornou-me sua eterna aprendiz. Queria eu ter nascido com esse potencial, mas se assim fosse, talvez não estivesse aqui contando essa história.

Você é sempre uma excelente notícia, tudo em ti é novo sempre, tudo em ti é brinca-dor.

É bom tê-lo em meus braços novamente!

Agora eu acho que ele vai brincar de novo, outra vez.

Que graça! Graças a Deus.

Sugestão de leitura:

“Ler e contar, contar e ler” - caderno de histórias, por um grande homem, contador de histórias, chamado Francisco Gregório Filho. Em breve sua história nesse blog.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Descaminhar

Uma vez era a história de uma sujeita que se descaminhou. Após mais de 20 anos esquadrinhada pela disciplina que organizava o seu espaço, consumindo sempre mais de 40 horas do seu tempo no trabalho e envolta numa carga emocional duplicada pela máquina corporativa, quase abandonou os seus sonhos. Se tivesse mais tempo talvez tivesse realizado alguns outros.

Sim sujeita, sujeita que se sujeitava ao isolamento de um espaço quase fechado, esquadrinhado, hierarquizado que propiciava o desempenho de funções pré-estabelecidas. Tal como siri na lata, o coração disparava como tambor por novos anseios, pelo grito de liberdade.

Segundo Foucault, as relações de poder disciplinar não necessariamente necessitam de um espaço fechado para se realizar, mas sim do controle do tempo, do tempo para produzir o máximo de rapidez e eficiência. TEMPO, elemento precioso e objeto de consumo tão desejado nos dias atuais. Então, essa sujeição do corpo ao tempo, ao tempo do outro, em vigilância foi finalmente descaminhado. A decisão de subtrair direitos (sim, carteira assinada, plano de saúde, tíquete refeição, 13º e blábláblá), de perverter a ordem do consumo (ela quer tempo, sente-se novamente dona dele, é isso que quer consumir com liberdade), o desgoverno no orçamento doméstico, entre outros extravios são preços do descaminho.

Está indo, lúcida e insensata. Trocando o porto “seguro” pelos mistérios dos novos portos, pelas novas portas que ainda serão abertas. Ali jaz a loucura que estava sendo produzida por um caminho. Um caminho que exclui o prazer, o ócio, a possibilidade da concretização de sonhos. E ela vai, sempre vai, ir e vir é o que gosta de fazer. A mente inquieta e a alma profunda brigam e gritam sem parar. O corpo dela fala, dança, reclama e ele a impulsionou. É o lançador de foguetes e estava emperrado, movia-se com dificuldade em direção ao trabalho. Empenado e torcido se desviou da linha de prumo, vivia com dores, na coluna, na cabeça, exausto. Como pode estar aprisionado, em cárcere institucional por tantas horas? Como pôde permitir o esgotamento da sua energia vital com a crença: mais horas de trabalho é igual a maior prosperidade?

Descaminhada está agora, depois de refletir afastada do mundo corporativo durante 30 dias. Quando não se usufrui de muitos dias de férias (ou nenhum) nos mantemos ocupados, com a máxima produção, não nos permitindo mergulhar no ócio e produzir nossos próprios desejos. Nossos desejos passam a ser corporativos. Desejamos o que nossas corporações desejam. O que achamos que é nosso desejo, foi produzido pelas mídias de consumo. Queremos ganhar mais para "ter" mais, abandonamos o "ser". É o hospício que produz o louco e não o contrário.

Enfim, descaminhada está. Desconstruindo crenças, normas, valores, realizando novos caminhos, adentrando novas portas, lançando-se em novos voos. Medo? Sim. Convicta? Jamais. Aventureira? Sempre. Tensa? Não, mais relaxada do que nunca, encantada pelas coisas mundanas, pelos apelos da alma e pelas pequenas belezas grandiosas.

E ela foi! Quem é ela? O que ela quer? Descaminhada está, enfim, para descobrir!

Quem quiser que conte outra. Dizem hoje em dia que ela navega pelo mercado livre com a seguinte diligência: “Compro tempo no mercado livre, ofereço sonhos e anseios em troca desse meu poder.”

Dizem as lendas que ela anda por aí realizando novos projetos, estudando (sim reaprendeu a ser aprendiz), aprendendo novas prosas e poesias, contando histórias para o seu filho, dançando, enamorando-se de novo, re-encantando-se pela vida, escrevendo, se preparando para o mestrado. Dizem que ela está mais perto dos seus sonhos. Dizem que ela anda cada vez mais distraída. Dizem...

Sugestões de leitura para o descaminho:

“A Economia do Ócio” / Bertrand Russel, Paul Lafargue – por Domenico De Masi
“Vigiar e Punir” – de Michel Foulcault

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Uma vez era...: Quase nada é o que parece ser

Uma vez era...: Quase nada é o que parece ser

Quase nada é o que parece ser

De um modo geral, Newton assumiu que os princípios matemáticos, de alguma forma retratam a realidade experimental, ou seja, descrevem a natureza das situações como ela nos aparenta ser. Fundamental então considerar a densidade, a resistência dos corpos (e é claro da mente quando nos referimos a pessoas), os espaços vazios e o movimento da luz e do som.

Tal como a velocidade do som varia em dias calmos e em dias de vento, assim também a nossa percepção dos fatos sofre variações. Tudo acaba dependendo da interpretação dos olhos do observador e do lugar que ele se encontra. É o tal do relativismo da física.

Bem, isso posto, UMA VEZ ERA...

Uma sexta feira com o ar naturalmente condicionado a um calor bizarro, bons amigos e música num bar muito bom, eu diria no Bar Du Bom, estiquei ao máximo a vontade de fazer xixi.

Na fila do banheiro com as pernas já inquietas e fazendo aquela dancinha bisonha involuntária (que fazemos quando estamos apertadas), finalmente chegou a minha vez da redenção. O “faz tudo” sorridente e simpático, sempre com um tratamento VIP – sim me sinto sempre very important people com o tratamento dispensado por ele e por todos os colaboradores do bar, inclusive os donos – sorriu e pediu que eu esperasse. Adentrou o banheiro e fechou a porta, antes que eu pudesse pedir peloamordedeus para entrar naquele quadradinho e encontrar o momento da salvação.

Pensei: Meu Deus, eu preciso entrar nesse banheiro agora! Por que ele fez isso justamente na minha vez? Por que agora? Por que comigo? Eu fui injustiçada! O que foi que eu fiz pra merecer isso?

Do lado de fora, imaginava injúrias e xingamentos silenciosos, que é claro, não concretizei, afinal sou um ser sociável e sem nenhuma psicopatologia (aparentemente) rsrs.

Após alguns minutos (pra mim um século de tempo) ele abre a porta, sorri e diz:
“Pronto, para uma cliente tão querida, um banheiro a altura, assento limpinho e sequinho, lixeira vazia, tudo ok, agora é aproveitar!”

Quanta vergonha dos meus horríveis pensamentos! Que a minha alma seja perdoada, mas a densidade da minha bexiga influenciou fortemente a minha percepção dos fatos.

E assim, essa experiência me ensinou muito sobre o relativismo das coisas. Quantas vezes não julgamos equivocadamente “the world, the people, the life”, a partir do momento e do lugar que estamos vivendo?

Pensemos! Que a filosofia sempre nos ajude! Ela está dentro de nós e nos permite refletir e rever as nossas perspectivas até na hora do xixi.

Sugestão de bar:

Bar Du Bom – Rua Grajaú, 247

Confira a resenha da VEJA Rio
“Enquanto muitos bares se gabam de servir croquetes iguais aos da Casa do Alemão, o lugar fabrica os próprios salgadinhos. A receita faz sucesso e, nas terças, quando se comem dois pelo preço de um, é difícil conseguir lugar para sentar na agradável esquina do Grajaú. Carne não é o único recheio. Existem quase vinte variações, entre as quais as misturas de salmão e cream cheese e filé-mignon e gorgonzola, além do imbatível cordeiro servido com geleia de hortelã. Outro caminho para beliscar é o dos grelhados. Prove a paleta de cordeiro aperitivo, boa companhia para uma das 25 cervejas importadas. Também tem chope da Brahma bem tirado e a preço em conta.”

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

A menina que re-aprendeu a dançar

UMA VEZ ERA... Uma menina que já na idade adulta, represou e oprimiu uma competência criativa e tão intuitiva, quanto aprender a amar: dançar.

E ela abandonou seu par no salão, saiu de fininho, a francesa, adentrou no seu possante e se foi... Não deixou pistas.

A vergonha tóxica de não saber dançar, levou-a ao absurdo do desespero. Na casa dos “enta” e poucos anos, ela, esguia, bonita, elegante, independente, interessante, inteligente e bem sucedida, sucumbiu aos sentimentos da criança que des – aprendeu a dançar. Sim, desaprendeu o que sabia.

Observe que as crianças quando ouvem uma música, bailam ao ritmo desse bálsamo que movimenta seus corpos instantaneamente (quem convive com crianças ou tem uma em casa sabe disso). Por que parou? Por que travou? Onde lá atrás abandonamos as nossas competências mais genuínas e espontâneas?

Revirando o baú das emoções e experiências infantis, encontramos mensagens que instilavam invalidação: “você não é feminina” e você “não sabe isso” e “não é boa naquilo”. E o troféu do amor do pai era a meta a ser alcançada. Mas os aplausos dele promoviam apenas as cenas dela subindo em árvores ou com comportamentos do gênero “tipicamente” masculinos pelo reconhecimento da nossa sociedade àquela época.

Foi desejada como menino, embora fosse uma linda mulher!

E agora? No setting terapêutico, resgata a criança que sabia dançar e pelos salões da vida desfila bailando harmoniosamente, ela e a sua criança, sua criança e ela... Uma vez era... e se uniram outra vez.

Quantos de nós abandonamos o nosso primeiro mestre, a nossa CRIANÇA INTERIOR, quando viramos adultos?

Sugestão de leitura e reflexão:
"Volta ao Lar", de Bradshaw.

Por que tudo acaba?



UMA VEZ ERA... um Domingo esplêndido, com o sol quicando já as sete da matina e acordo com a seguinte frase de um rostinho a contemplar a paisagem na janela:

JP: “Mamãe, papai do céu fez as árvores, o sol, a montanha né?”

Eu: “Sim filho, claro” ainda tentando entender a filosofia do infante com aquele sol já ardendo na face.

JP: “Fez também os macaquinhos, o céu, as nuvens, as flores, a gente?”

Eu: “Isso filho” e me perguntando, onde essa criaturinha metida com esse argumento ontológico queria chegar? Um novo Sartre, não poderia, Sartre não concebe Deus a priori. Kierdegaard talvez ou quem sabe Heidegger, com a profundidade de “Ser e Tempo”. Ai pensei, preciso hibernar mais um pouco e minha cria quer filosofar a essa hora. My God, responda a ele por favor.

JP: “Mamãe, então se Deus fez coisas tão bonitas, tão legais, por que as coisas acabam, por que a gente morre e tudo acaba?”

Eu: Putz, sem resposta que pudesse fazer jus a altura da pergunta, ainda com sono respondo: “Filho aí tudo começa de novo, outra vez” e emendo pra não ficar mal na fita, mãe Drª de Cuca, como ele diz e com várias formações filosóficas, não poderia deixar a peteca cair, continuo “Filho, é como o dia que nasceu hoje, vamos fazer um monte de coisas, hoje é Domingo, dia de ficar com o filho (como ele diz), não tem aula, vamos passear e então o dia vai se transformando aos poucos em noite, o sol se põe, morre o dia, nasce a noite e depois, cansados, vamos dormir, morremos para o dia de hoje e amanhã nasceremos de novo junto ao dia de amanhã”, ou não, pensei silenciosamente com meus botões.

JP: Em princípio satisfaço ao questionamento e recebo um sorriso junto com um “Ah tá mamãe, então tá, eu te amo tanto, vou brincar”.

Ufa, essa foi por pouco.... Por vezes digo que não sei e a sabatina no dia seguinte sempre recomeça mais difícil...

Neste mundo massificante, que investe-se pesadamente para anular as singularidades dos indivíduos, o pensamento da morte, da finitude, resgata a percepção de que cada homem é único. Na perspectiva existencialista, considera-se a impossiblidade do homem imaginar um tempo em que ele não esteja presente — tanto no passado como no futuro — para daí deduzir que não faz sentido falar sobre o tempo como algo fora e independente do homem.

A relação íntima entre o ato de pensar, a filosofia e a morte está em que o filósofo é alguém que se habituou ao ato de pensar e, se entendemos que a morte é a interrupção de toda ação, pensar é parecido com morrer.

Se o ato de pensar, não importando sobre o que se pensa, já é parecido com a morte, o que se deve dizer do pensar sobre a morte? Este pensar tem um efeito duplicado porque a "interrupção das atividades habituais" é intensificada em dobro: primeiro porque qualquer pensamento é já interrompedor; segundo porque esse objeto pensado chamado morte — especialmente nos dias atuais em que o tema parece estar banalizado — não faz parte das atividades habituais da maioria das pessoas.

Pensar sobre a própria morte e sobre o sentimento de finitude sobre o mundo é pensar com alma mega profunda porque é sobre algo que está exclusivamente "dentro de nós".

Oh meu Deus, meu filhote resolveu se conectar tão cedo e sobretudo com essa experiência de alma profunda entregue a essa solidão kierkegaardiana, que equivale à liberdade sartreana, à angústia heideggeriana e ao não-anonimato de Jaspers: isolando o indivíduo do homem-massa, criando o existenz.

Uma questão se coloca aqui: será que esse hábito de pensar com essa alma investigativa, penetrante, sensível e perspicaz implica necessariamente em um certo isolamento, em um sentimento que podemos denominar de “peixe fora d´água” ou o que a filosofia chamaria na negação da sociabilidade humana?

Ou será que as experiências desdobradas da adoção o transformaram em um pensador. Não importa pra mim, mas SIM, que ele é mais um de nós! Bem vindo meu pensador amado, a quem chamo de JP, meu mestre!

Só não sei se neste mundo devo comemorar a sua maestria no campo das ideias...

Sugestões de leitura:

HEIDEGGER, Martin. Que significa pensar? Buenos Aires: Nova, 1964.
SARTRE, Jean-Paul. O Ser e o Nada: ensaios de ontologia fenomenológica. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1997.

E é claro “Ser e Tempo” de Heidegger também. Boa leitura, bons pensamentos!

Histórias ou Estórias... o pensamento que não para

UMA VEZ ERA... E assim eu pretendia postar a primeira história no meu blog. Eu só ainda não conseguiria definir se chamaria de “histórias” ou “estórias”. Vejamos: história (grego historía, -as, exame, informação, pesquisa, estudo, ciência) s. f.

1. Narração escrita dos fatos notáveis ocorridos numa sociedade em particular ou em várias.
2. Ciência que estuda fatos passados
3. Sequência de fatos ou ações
4. Relato desses acontecimentos = estória, narração, narrativa
5. Descrição dos seres da natureza
6. Estudo das origens e progressos de uma arte ou ciência
7. Biografia de uma personagem célebre
8. Livro de história
9. Conto, contação

Bem, todas as alternativas acima estão valendo e, como o relato desses acontecimentos pode também ser chamado de “estória”, anyway, sigamos!

“Uma vez era...” é tão mágico recriar o que já foi um dia “era uma vez”...

Vejamos, “ERA” “UMA” “VEZ”.

“UMA” fala de única unidade, o primeiro dos números inteiros, que não admite divisão, igual, da mesma natureza, singular...

“VEZ” fala da relação dos atos consigo próprio e com a unidade, reitera, fala de ocasião, de um tempo, de uma época indeterminada, ressalta o ensejo, a oportunidade, que é sempre uma e única.

“ERA” pode-se ter duas leituras, período, época ou até uma época fixa que serve de ponto de partida para a contagem dos anos. Também pode-se ler “era” como ser, conjugando o verbo ao passado, “era” de “se foi” “passou”, “aconteceu”.

Então, amo essa frase construída pelo meu autor favorito, meu guru, meu mestre de ensinamentos mais profundos, JP, meu filho que conta apenas 4 anos de vida, mas precisamente com infinidades de histórias.

A vida é de certa forma como essa frase. Oportunidade única, com vários episódios singulares que sucederam, com várias doses, pequenas porções, muitas unidades de vezes... e ela é claro, é apenas UMA (ÚNICA) VEZ (OPORTUNIDADE) ERA (QUE SE ESVAI LOGO APÓS O PRESENTE).

Então vamos aproveitá-la, já que UMA VEZ ERA... e já foi...

Esse blog é pra vc, independente da idade, sexo, gênero, cor e história de vida! É blog de gente!