sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Por que tudo acaba?



UMA VEZ ERA... um Domingo esplêndido, com o sol quicando já as sete da matina e acordo com a seguinte frase de um rostinho a contemplar a paisagem na janela:

JP: “Mamãe, papai do céu fez as árvores, o sol, a montanha né?”

Eu: “Sim filho, claro” ainda tentando entender a filosofia do infante com aquele sol já ardendo na face.

JP: “Fez também os macaquinhos, o céu, as nuvens, as flores, a gente?”

Eu: “Isso filho” e me perguntando, onde essa criaturinha metida com esse argumento ontológico queria chegar? Um novo Sartre, não poderia, Sartre não concebe Deus a priori. Kierdegaard talvez ou quem sabe Heidegger, com a profundidade de “Ser e Tempo”. Ai pensei, preciso hibernar mais um pouco e minha cria quer filosofar a essa hora. My God, responda a ele por favor.

JP: “Mamãe, então se Deus fez coisas tão bonitas, tão legais, por que as coisas acabam, por que a gente morre e tudo acaba?”

Eu: Putz, sem resposta que pudesse fazer jus a altura da pergunta, ainda com sono respondo: “Filho aí tudo começa de novo, outra vez” e emendo pra não ficar mal na fita, mãe Drª de Cuca, como ele diz e com várias formações filosóficas, não poderia deixar a peteca cair, continuo “Filho, é como o dia que nasceu hoje, vamos fazer um monte de coisas, hoje é Domingo, dia de ficar com o filho (como ele diz), não tem aula, vamos passear e então o dia vai se transformando aos poucos em noite, o sol se põe, morre o dia, nasce a noite e depois, cansados, vamos dormir, morremos para o dia de hoje e amanhã nasceremos de novo junto ao dia de amanhã”, ou não, pensei silenciosamente com meus botões.

JP: Em princípio satisfaço ao questionamento e recebo um sorriso junto com um “Ah tá mamãe, então tá, eu te amo tanto, vou brincar”.

Ufa, essa foi por pouco.... Por vezes digo que não sei e a sabatina no dia seguinte sempre recomeça mais difícil...

Neste mundo massificante, que investe-se pesadamente para anular as singularidades dos indivíduos, o pensamento da morte, da finitude, resgata a percepção de que cada homem é único. Na perspectiva existencialista, considera-se a impossiblidade do homem imaginar um tempo em que ele não esteja presente — tanto no passado como no futuro — para daí deduzir que não faz sentido falar sobre o tempo como algo fora e independente do homem.

A relação íntima entre o ato de pensar, a filosofia e a morte está em que o filósofo é alguém que se habituou ao ato de pensar e, se entendemos que a morte é a interrupção de toda ação, pensar é parecido com morrer.

Se o ato de pensar, não importando sobre o que se pensa, já é parecido com a morte, o que se deve dizer do pensar sobre a morte? Este pensar tem um efeito duplicado porque a "interrupção das atividades habituais" é intensificada em dobro: primeiro porque qualquer pensamento é já interrompedor; segundo porque esse objeto pensado chamado morte — especialmente nos dias atuais em que o tema parece estar banalizado — não faz parte das atividades habituais da maioria das pessoas.

Pensar sobre a própria morte e sobre o sentimento de finitude sobre o mundo é pensar com alma mega profunda porque é sobre algo que está exclusivamente "dentro de nós".

Oh meu Deus, meu filhote resolveu se conectar tão cedo e sobretudo com essa experiência de alma profunda entregue a essa solidão kierkegaardiana, que equivale à liberdade sartreana, à angústia heideggeriana e ao não-anonimato de Jaspers: isolando o indivíduo do homem-massa, criando o existenz.

Uma questão se coloca aqui: será que esse hábito de pensar com essa alma investigativa, penetrante, sensível e perspicaz implica necessariamente em um certo isolamento, em um sentimento que podemos denominar de “peixe fora d´água” ou o que a filosofia chamaria na negação da sociabilidade humana?

Ou será que as experiências desdobradas da adoção o transformaram em um pensador. Não importa pra mim, mas SIM, que ele é mais um de nós! Bem vindo meu pensador amado, a quem chamo de JP, meu mestre!

Só não sei se neste mundo devo comemorar a sua maestria no campo das ideias...

Sugestões de leitura:

HEIDEGGER, Martin. Que significa pensar? Buenos Aires: Nova, 1964.
SARTRE, Jean-Paul. O Ser e o Nada: ensaios de ontologia fenomenológica. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1997.

E é claro “Ser e Tempo” de Heidegger também. Boa leitura, bons pensamentos!

2 comentários:

  1. esse menino é incrível e vc iluminada! parabéns.

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  2. Valeu Reis!

    Só não sei se eu sou iluminada porque ele é incrível ou ele é incrível porque sou iluminada.

    Agora estou refletindo sobre isso: a dialética das coisas. Hahahaha!

    Valeu a visita. Volte sempre! Bjs.

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