quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Desejo, divagações et cetera e tal

O desejo é um “cara” ousado, sem limite nem regra, que já chega tomando conta do seu corpo todo, da sua mente e sem que você possa decifrá-lo, é arrebatado por ele… Muitas vezes ele é inconfesso, insano, às vezes ele incendeia, outras é doce e raro. Em alguns momentos é lento, perpétuo e outros é denso, intenso. Porém, nunca tem lei e é sempre inexplicável, misteriosamente sem razão. Inexorável, implacável, incontrolável, assim ele é. Podemos não concretizar pela via da vontade, reprimindo as atitudes, mas ele, ele está lá, latente, ardente. Dizem que para se conhecer, o ser humano deveria aprofundar-se em conhecer os seus desejos mais tiranos. Eles são nossos guias anônimos, não confessos, e podem nos orientar ou nos sabotar por completo. Desvendá-los é um processo exigente.

Pois é, eu gosto de ter desejo, amo ser uma pessoa desejante, mas me sinto sem autonomia quando ele se manifesta. De certa forma, desgovernada, capturada por sua sedução, pelo encantamento que o ato de desejar provoca. Ei, isso é sempre uma aventura perigosa, duvidosa, incerta.

É lógico que só desejamos porque há carência, alguma coisa nos falta. Se não faltasse não desejaríamos, seríamos plenos, completos, perfeitos, um Deus. Portanto, desejamos porque somos finitos, imperfeitos, inacabados, incompletos, errantes… Jamais poderíamos saborear o gosto do vinho, tendo a boca sempre cheia dele.

George Bernard Shaw, dramaturgo, romancista, socialista e jornalista irlândes, falecido em 1950, já sabia desde essa época, que há duas tragédias na existência humana: “uma é quando nossos desejos não são satisfeitos; a outra é quando o são.” O cerne da ação da dramaturgia é sempre o conflito.

Quer saber, o ser humano problematiza tudo. Ô serzinho difícil! Se o desejo não é atendido, o filho da puta reclama, se é satisfeito entra em crise existencial. Tudo vira catástrofe. Se está sozinho, quer alguém bacana, interessante. Se está junto com uma pessoa legal, quer sair pelo mundo, se descobrir, analisar o que quer para sua vida. Porra! Ser humano “é muito complicado mesmo”, já dizia o Português do boteco quando mandou salaminho com queijo branco, enquanto havíamos pedido salaminho com queijo prato. Sim cacete, desejo é desejo e não tem muita explicação, queríamos assim, com queijo prato, e.x.a.t.a.m.e.n.t.e do jeitinho que desejamos, sem saber o “porquê”. O desejo não tem lógica, achamos que a química perfeita era essa: cerveja gelada, boa companhia, salaminho com queijo prato e pronto!

Acho que essa intriga em viver é o que me motiva a ser psicóloga, é tudo muito insensato. Tudo pode ser, tudo pode não ser… Tem um pouco de loucura nessa profissão, nessa escolha de trabalhar com esse objeto tão efêmero: o ser humano. A probabilidade das conexões entre as pessoas, a forma como elas se conhecem e se atraem, tudo nesse mundo gera questionamentos e mais ousadia em minhas ideias, tudo ferve em minha mente. Acho que é por isso que escrevo. Eu mesma, sempre efêmera nas minhas discussões, modifico as verdades que acredito a cada nova experiência vivida. O que acabei de falar já se modificou, hã, eu disse isso? Sou totalmente contestável, imprudente e insensata. Às vezes indecifrável até pra mim mesma.

Ultimamente ando muito sem juízo, me permitindo ser desafiada por valores e conceitos que construí pacientemente, para agora, descobrir que essa merda toda não vale nada. Agora estou aprendendo outras coisas, fazendo outras escolhas e experimentando novos desejos.

O problema do desejo é o tamanho, a dimensão e a intensidade dessa falta. Quando a fome é grande, tendemos a idolatrar a fonte de nutrição do nosso desejo, adulterando e divinizando o objeto da nossa fome. Por isso, de vez em quando é importante aprendermos sobre a plenitude sozinhos, tipo acampamento solitário, curtindo montar a própria barraca, cuidando de providenciar a própria comida, de férias dos outros e em conexão com os nossos desejos, saciados ou não, apenas identificando-os, acolhendo-os, ouvindo o barulho das nossas ideias e o eco dos nossos desejos. Passei um tempão experimentando fazer um monte de coisas que eu não costumava fazer sozinha. Viajei sozinha, fui ao cinema só, curti show sozinha e muitas outras coisas comigo mesma. Uma mixagem de medo e coragem, como uma sobreposição e combinação dessas forças num único som, em um novo repertório com novas nuances, tomaram conta de mim. Foi um período sensacional e voltarei a repetí-lo por muitas vezes e sempre. Me senti muito mais forte depois dessas experiências. Assim, andava tão saciada de mim mesma, que nem desejava desejar nada ou alguém. Não tinha fome, tinha juízo.

E agora? Agora esse tal de desejo me convidou pra dançar só pra me estontear. Sim, ando bastante atordoada com esse “cara”. Ele é novo, intrigante, interessante e me faz me sentir desejante e desejada. Gosto do jeito que ele sorri pra mim, com os ingressos na mão, me convidando pra vida. O nome dele? É DESEJO.

Nada mais sei sobre ele. Nada mais sei sobre mim mesma.

2 comentários:

  1. Claudinhaaaa!!!! Eu já tinha visto sua chamada para o post no FB, mas só li hoje, depois que esse cara resolveu me visitar nesse fim de semana! Estava eu assim mesmo, exatinho assim: saciada de mim mesma, sem fome, só juízo.
    E agora, onde esse Sr. vai me levar, eu ainda sei não :)
    Mas vamos lá. Saudades docê, neguinha!
    Beijo.

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  2. Putz, então estamos no mesmo momento. HAHAHAHA! Seria o processo de desintoxicação da nicotina abrindo os nossos poros?

    Saudades também. Beijão.

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