segunda-feira, 18 de julho de 2011

Do apogeu à apneia, o amor está puto!

O amor está puto! Ele vive uma síntese perturbadora nos dias de hoje. Os desejos se colocam em justaposição ou em contraposição. A “falta de tempo” como justificativa e a clara indisponibilidade emocional, condição offline daqueles que assim se colocam X os disponíveis e generosos que colocam a sua autoestima em queda livre, esperando que o outro mude o seu status para online e assim se conecte numa relação.

O amor está puto! Uma parte do amor é generosa e aceita a fome como condição de subsistência, a outra é masoquista, sofre e permanece faminta. Ainda assim, ele insiste em existir, não sabemos até quando.

O amor está puto! Condenado a viver pra sempre, embora se limite com a vida curta, o amor quer um último recurso. Não sabe bem o que fazer nos tempos modernos.

O amor está puto! Assim, entrou em colapso e, desesperado, sem falta de cuidado, sentou e chorou abraçado com a tristeza. Lamentou por ter sido tratado com tanta falta de gentileza e ausência de reciprocidade.

O amor está puto! Solitário, ele decidiu partir, mas não antes de procurar compreensão na razão das palavras. Burro? Não, não é. O amor é sábio, ele não é de graça, ele quer disponibilidade, carinho, atenção e reciprocidade, embora muitos insistam em dizer que ele é totalmente gratuito e incondicional. Então, voltemos a busca pelas palavras que possam socorrer o amor.

O amor está puto! E eu, particularmente, a autora desse texto, adoro brincar com as palavras, elas exalam sentimentos e tem vida própria na mensagem que meu cérebro envia para as minhas digitais. Elas dançam e rodopiam na minha cabeça despretensiosamente, da mesma forma que dizem por aí que sou escritora. E eu vou organizando cada uma delas delicadamente na tela do computador, enquanto afoitamente as digito. Coloco pra lá e pra cá, edito, busco outros significados e lá vão elas, redefinindo, desenhando outros código na minha cabeça e na dos meus leitores. Às vezes, um palavrão é insubstituível e nada daria conta de manifestar o que amor está sentindo, por isso ele está tão desbocado.

Afinal, o amor está puto! Então, procurou a letra “A” no dicionário, tal onde mora catalogado entre outras diversas atribuidoras de significados e significantes. Encontrou algumas palavras vizinhas que pudessem oferecer sentido a sua falta de sentido: apogeu, apodrecer, apoderar, apocalipse e apneia.

O amor puto então, atingiu seu auge, passou do timing, tomou posse e suspendeu a respiração, sufocou.

O amor continua puto! Diante de tais palavras, sucumbiu asfixiado de tanto egoísmo e hostilidade a sua volta. O amor pela primeira vez se viu covarde e, é claro, puto!

Do apogeu à apneia, o amor só queria um pouco de poesia. Quem sabe em outro lugar, algum dia. Por enquanto o amor só sabe que está puto e que, a partir dos encontros é que ele se transforma e assim, modifica o mundo.

O amor sabe que é dele que podemos extrair o melhor material que constrói a nós mesmos e consequentemente a um mundo melhor, por isso ele está tão puto!

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Não há como voltar a ser como antes

Fui tua, foste meu, que mais queremos?

Ainda somos talvez por ontem ou daqui a dois segundos, algo que não sabemos: o que desejamos um no outro, o que queremos um do outro, as linhas de fuga de duas vidas que seguem lado a lado dispostamente atraídas. Pra que, por que, pra onde, como?

Uma mulher e tampouco um homem, não navega nunca no mesmo mar novamente, muitos peixes, seres viventes e banhistas mergulharam nessas águas, modificando os mares e os mergulhadores. Pitágoras já dizia: "um homem não pula duas vezes no mesmo rio". Nenhum dos dois é mais o mesmo depois da aventura do mergulho. As águas do rio passam e o homem se transforma. Então, pra que insistirmos em sermos como éramos antes? Não seremos!

Devemos aprender a gostar de ser como agora, depois de tantas experiências, mergulhos e aventuras. Esse é o aprendizado estruturante da vida, com todas as suas delícias e frustrações.

Pessoas me procuram em meu consultório me pedindo implicitamente em suas queixas: "eu quero ser como antes" e elegem determinada época e situação de sua vida, interpretada agora como feliz.

Eu sempre frustro as pessoas com as quais trabalho e convivo, a fim de ajudá-las nessa reedição. Eu digo um "não" estruturante: "situe-se, essa missão é simplesmente impossível no tempo e no espaço."

Não sejamos idiotas e não vamos agir como dois. Se você por acaso conseguisse ser como antes, o resultado trilhado por este caminho seria exatamente o mesmo, como agora, um ser frustrado a minha frente pedindo pra retroceder no tempo e no espaço. 

Então eu convido : "Quer aprender a usufruir do "ser" como agora?" "Quer tornar-se 'vir- a-ser' depois de antes e de agora, algo novo?"

Construo o meu caminho junto com aqueles que o cruzam, mais ou menos assim: 

Para ALÉM do cogito, o impensado
                       das experiências, o transcendental
                       do planejado, o inusitado!

Eu quero! Vem comigo inusitado, aqui tem espaço pra você! A nossa memória pode ser uma  interessante ilha de edição ao invés de ressuscitarmos um cemitério inteiro de tudo que não nos serve mais, contaminando todas as nossas novas experiências.