segunda-feira, 26 de abril de 2010

Maravilha de mulher, adormeça de vez em quando

Mulher Maravilha, um dia você desiste da tentativa de perfeição.

Largar o cigarro, entregar os projetos nos prazos, ser boa mãe, fazer mestrado, ser educada, estar presente na vida daqueles que amamos, não se atrasar para o trabalho, ser proativa no exercício de sua profissão, cozinhar bem, ser organizada, participar da vida social, manter o corpo em forma, correr, dançar, malhar, passear com o filho, estudar, responder os e.mails, ler um bom livro, arrumar o armário, ser criativa, assertiva, dinâmica, afetuosa, inteligente, ser boa amiga, ser solidária, trabalhar por um mundo mais justo, manter a simpatia e o sorriso no rosto.

Sabe aqueles dias que tudo que se quer é mandar a totalidade do que existe pro espaço, sem chance de reciclagem e aproveitamento? Tchaaaaaaaaaaaaaaaaaau pessoal!

Vou na esquina comprar um maço de cigarros e talvez não volte, mesmo não fumando mais. Se tivesse um pozinho mágico para sumir, certamente o utilizaria.

De vez em quando as mulheres deveriam ter o direito ao "dia do sumiço", sem ser solicitada ao trabalho, aos compromissos familiares, sem atender ao telefone, sem dar as caras nas redes sociais virtuais e presenciais. Um dia, só um dia, pra si mesma, como se fosse o último da sua vida.

Imagina poder comer qualquer coisa que tenha vontade ou alguém que se queira, rsrsrs. Falar qualquer besteira, fazer qualquer merda, rir de tudo e de todos, xingar quem se quer e amar quem se deseja. Sentar sem modos, não pentear os cabelos, beber todas. Um dia sem lei nem rotina, sem obrigação nem responsabilidade, puro princípio do prazer e do desejo.

Ei, ei acorda, foi apenas um sonho... Quando vi a capa vermelha estava estirada no chão. Sonhei que eu havia desistido da missão heróica de ser uma maravilha de mulher... Eu queimava em febre, o corpo suava, estava delirando, sentia frio e calor, corpo débil e cansado, exausto. Foi uma forte gripe...

Tudo bem, eu continuo tentando...

Acho que eu entendi tudo mesmo ao lembrar de uma fala recente do meu filho, de apenas 4 anos: “Mamãe, você sabia que cavaleiros e príncipes não gostam da Mulher Maravilha?”

Eu ponderei surpresa: “Nãaaaaaaaaaao meu filho? Mas por que?”

E ele respondeu com toda a sua pureza: “Porque ela já está acordada. Eles gostam mesmo é de acordar as princesas adormecidas”.

Acho que vou dormir de novo...


sábado, 24 de abril de 2010

Silêncio...



Eu sei, eu sei, o blog conta histórias, mas algumas vezes elas nascem em forma de poesias e poemas. Enquanto não acho o que desejo, me inspiro, fico em silêncio e escrevo...

Soma, trai, subtrai
Chega, aconchega
Sai, vem e vai
Some
Não come
Se aquieta
Me alimenta
Desperta
Porta aberta
Sem dó
Nem nó
Voo presa
Cilada do desejo
Ensejo
Quero
Não devo
Ainda dá tempo?
Vai, não vem
Fica
Pura descoberta
Me vejo coberta
Em lágrimas adormeço
O corpo fala
Sem ânimo adoece
A mente enlouquece
A voz cala
Silêncio...

terça-feira, 20 de abril de 2010

Descompasso



Abraços descontinuados
Beijos interrompidos
Desejos partidos
Sonho sem chão
Medo em vão
Alma presa
Coração se desprendeu
Controle não sei
Entregue se meteu
Confusão encontrei
Não sei o que me deu
Paciência me espera
Solidão me aconchega
Presente, minha vez
Sei que chega
A flor da pele
Se entrega
Poder de fogo, testa
Se suicida
Onde estás dono do meu desejo?
Aqui estou sem saída
Um pouco de brisa
Sopra vento
Me leva
Longe estou
Silêncio
Beijo, não liga
É tudo descompasso…

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Status de relacionamento? Híbrido


Uma vez era…

Um cara ou “o cara”. Tímido? Sei lá, achei ele até bem ousado!

Na dele? Talvez, mas ele tinha gana, determinação. Parecia saber o que quer.

O que é proibido, o que foi coibido, que desperta a libido, o que é então?

Mal casado? Não, ele é até “bem casado” e não sabe explicar não.

Se é assim, por que um affair? Despropositado? Parecia cheio de propósitos…

Pensei : será que a multiplicidade de vínculos, trajetórias e conexões na vida de um ser humano cabem num casamento?

Solteiros, casados, namorados, peguetes, descasados, enrolados, ficantes, amantes e amados. Vai saber…

A impressão que tenho é que as categorias não dão conta da nossa pluralidade.

Como gerenciar a nossa necessidade de criatividade, inovação e liberdade com as características embaladas no casamento, sob o rótulo igualmente sedutor , oferecendo rotina, equilíbrio, “segurança” e “exclusividade”?

Estrelas nos olhos é o que também queremos. Aquela sede insaciável é o que nos faz sentir vivos. A pele arrepiada é o que traduzimos como desejo. O novo, o despertar, somos curiosos, queremos des-cobrir, tirar o véu, mas também queremos pertencer.

Em geral, o que é uma pena, esses elementos acabam sucumbindo com o dia a dia de uma relação sob a placa: “casados”. Em lugar disso, o amor ou a defesa dele em nome da parceria, dos laços de amizade, de uma vida compartilhada.

Difícil isso! Acho que queremos mesmo tudo isso embrulhado num pacote só e, de preferência, com alguma pimenta.

Pode ser?

Isso, quero dose dupla, quero combo, promoções combinadas, não quero nada plano, excludente, linear, quero diversão e descanso, ousadia e respeito, colo e encorajamento, autonomia e aconchego, quero unir-me e também respirar, descoberta e pertencimento, agito e paz, liberdade e responsabilidade, quero aventura e amor.

Por que não?

Na verdade, somos um cruzamento de desejos de várias espécies, com diferentes elementos na sua composição. É o preço do mundo globalizado, da intensa carga de estímulos, dos movimentos de luta política. Temos homens na cozinha e mulheres nas corridas de stock car, temos pais criando filhos sozinhos e mulheres que não desejam ser mães. Fato é que estamos cada vez mais híbridos.

Mulheres que parecem “santas” tranformam-se em lobas selvagens em busca de “amor”. Homens ditos “canalhas” são verdadeiros gentleman que tratam bem e carinhosamente suas mulheres. Mulheres vestidas para matar que têm um verdadeiro coração cor-de-rosa. Homens misóginos se dizem apaixonados mas a verdade é que odeiam as suas mulheres. Temos tudo ao mesmo agora e queremos mais.

Temos heteros, bi, homossexuais, transexuais. Há metrossexuais e também mulheres que não pintam as unhas e nem os cabelos. Mulheres que matam baratas e homens que correm de inocentes morcegos. Temos famílias constituídas por 2 mães, nenhum pai, inter-racial, formada por kibutz. Nada mais é definido tal como era antes. Tudo desconstruído, novo, híbrido.

Nossa espécie evolui e se torna cada vez mais complexa, nossa personalidade está mais receptiva as diversas mudanças sociais e culturais. Flexibilidade e tolerância é o que se pede para a sobrevivência da nossa humanidade.

Assim, tal como os carros flex, utilizamos muito mais que uma fonte de energia para o nosso funcionamento. Associamos vários motores, integramos informações e sentimentos múltiplos. Nos tornamos híbridos e fato é que ainda não sabemos lidar com isso…

Hoje eu só quero um abraço, cheio de significados e que, contenha vários elementos, híbrido talvez…

O mundo pede cuidado



Uma vez era…

Uma rotina sob aparente controle. Agenda de trabalho, gerenciamento do tempo. Acorda, levanta, cronômetro conectado aos compromissos. Assim fica mais “fácil” viver. Tempo livre em casa, fazer o que? O que fazer? Ver os noticiários anunciando as desgraças e aumentando o sentimento de impotência? Sinto-me péssima.

Mediante o caos que está a cidade do Rio de Janeiro por conta das chuvas, a vida de todos nós transformou-se num caos. Perdemos o suposto direito de ir e vir. Alguns presos nos escombros e outros no trânsito. Abalo, medo e comoção é pouco para definir o sentimento da população. Involuntariamente estamos submersos em outra rotina, o encontro com o próprio self tornou-se inevitável. As desgraças naturais estão estampadas, a vida parece não valer muita coisa…

Impossível é parar de pensar no sentido da vida. Pensar na tragédia oriunda das intempéries, nas consequentes mortes, na própria vulnerabilidade da vida e, é claro, na condição de solidão que atravessa toda essa situação.

A vida é imprevisível e está sempre por um fio, por uma chuva, por um amor, por uma dor, por uma despedida às vezes sem chegada… e por todos os riscos que implica o processo de viver.

Quero meu controle remoto de volta!

Quero acreditar que posso planejar, prever, evitar, calcular e gerenciar.

Quero me sentir em equilíbrio de novo. Vida, natureza, devolva meu eixo.

Pouco tempo para nos recuperarmos, destruímos tudo, não preservamos, não nos ocupamos de cuidar da nossa casa, da nossa terra, do nosso lar.

A inclemência do tempo é a falta de suavidade, de sensibilidade de todos nós. A perturbação atmosférica é também a confusão mental de todos nós. Chuva devastadora, terremoto avassalador, o tempo está mexido com a nossa falta de tempo para cuidar. O tempo pede alma! O mundo precisa de calma, de cuidado, de todos nós.

A Onu calcula que no Haiti houve mais de 230 mil mortos. Aqui no Rio a chuva já provocou mais de 100 vítimas fatais.

Taí, esse é o mundo que construímos. Essa chuva tem a nossa participação, a nossa irresponsabilidade, a nossa falta de cuidado. Isso tudo é reflexo das nossas atitudes e/ou das nossa omissões. E agora?

terça-feira, 6 de abril de 2010

Quando um não quer, o outro quer

Uma vez era…

A pequena sob os meus cuidados contava apenas 6 anos. Sabedoria e astúcia são características marcantes em seu comportamento. Fato é que na sua história, elementos como rejeição sucedida por um abandono a tornaram filha de uma outra família, diferente da que a concebeu biologicamente.

Diagnosticada pela psiquiatria com "Transtorno Opositivo Desafiador", penso que ela só deseja fazer os adultos refletirem sobre simples coisas mundanas.

Ela adentra o meu consultório certo dia, manifesta tristeza em seu rostinho alvo branco e me questiona: “Tia Claudia, por que as pessoas brigam?”

Em seguida conta uma calorosa briga entre os pais e diz que já está na hora de reunir a família para um encontro de “brincadeiras”, só obedeço.

E vem a família. Cada um descreve suas opiniões sobre os motivos pelos quais as pessoas brigam. A pequena diz: “Porque um não empresta pro outro o que o outro quer emprestado” e continua: "as pessoas não sabem dividir as coisas", resumindo em uma linha o problema da humanidade.

As pessoas não querem emprestar seu tempo, sua paciência, sua compaixão, seu amor, seus ouvidos, seus pertences, suas crenças, suas opiniões, sua tolerância, sua intimidade. As pessoas não querem “prestar em” serviço do outro nada que supostamente lhe pertença.

Voltando ao setting terapêutico, o pai diz: “nós brigamos porque a sua mãe não queria conversar e eu sim, então continuei falando mesmo que ela não quisesse”.

A mãe rebate o pai indiretamente, dirigindo-se a filha e tentando lhe ensinar o conhecido ditado: “filha, quando um não quer…” e espera a complementação tradicionalmente conhecida. Mas, ela rompe o ditado com a sua fascinante imprevisibilidade infantil e continua: “… O OUTRO QUER”.

E ela quebra paradigmas, modifica ditos populares, busca novas respostas, arranca sorrisos, gera dúvidas, pondera as incertezas, torna os corações mais tolerantes e flexíveis, pois para ela a vida é assim: “ QUANDO UM NÃO QUER, O OUTRO QUER”, tal como foi a sua história de adoção.

Aquilo que não serve para uns, certamente será de grande valia na vida de muitos outros. E a pequena acima, cada vez mais linda e brilhante parece conhecer com sabedoria o fluxo da vida, que um dia almejamos alcançar com a maturidade.

Salve as pessoas, salve o mundo, recicle tudo, partilhe, transforme, preserve, repasse o que não se quer mais. Certamente em algum lugar, em algum momento, alguém precisa daquilo que já não te serve. Imagine um mundo assim e faça acontecer!