Hey, a vida prega peças mesmo. Tenho uma história pra contar
de uma super querida, mas que poderia dizer que é a história nossa de cada dia
na interseção do mundo real com o virtual. Cometi um ato falho. Aliás
super falho. Sempre faço essas merdas!!! Que falta meu conjunto de parafusos
completo faz... Segundo Freud, o ato
falho não representa um erro, um equívoco, uma falha comum, há algo, um
significado mais profundo que precisa ser analisado. E quer saber, da minha
parte, há mesmo! É como trocar o nome do marido pelo do amante. Tem um
significado singular ou não tem???
Bem, melhor eu contar o caso. Ela baixou um aplicativo que
permite que, em um raio de 500 metros, todas as pessoas que estão conectadas ao
Facebook possam aparecer em sua telinha do celular e, caso ela “curta” a pessoa
e ocorra a reciprocidade na curtição, uma tela se abre para que eles possam
conversar. Apareceram conversas com gogoboys até caras que já iniciaram o
bate-papo perguntando se ela fumava maconha. Ué, o que importa é apresentar o
seu currículo e saber o do outro pra achar a tal cara metade que, juntando com
a outra se tornaria então uma cara-de-pau inteira, com ou sem maconha, com ou sem
dançarinos de sunguinha (pequenas e apertadas) no novo cenário da sua vida. Ok,
sem moralismos babacas!!! Tem muita gente falando a "verdade" sobre si mas também alguns contadores de histórias, ou melhor, estórias. Conheci um ao vivo e a cores e que também tinha um "currículo" no site de relacionamentos "Par Perfeito". Figura única! Lá ele dizia ganhar mais que um promotor de justiça e na vida real era aquele cara tipicamente alérgico ao trabalho, acordava já mergulhado num balde de maconha e não sabia o que era trabalho fazia bastante tempo, apesar de se dizer empresário. Coisas da vida, ou melhor, da era virtual. Tem gente com foto no perfil fazendo quadradinho de oito e que diz ler Foucault... Bicho não dá, fica feio forçar a barra assim, faz isso não!!! Aliás que bicho daria se isso fosse possível? Tem coisas que são como água e óleo, não se misturam, quadradinho de oito e Foucault é uma delas.
Não acredito em posições radicais e isoladas, mas alguma coerência e razoabilidade ajuda a dar crédito aos pretendentes virtuais. Aliás, gosto muito de variar tudo, posições, papéis, opiniões e é claro, contextualizá-las rsrsrs. Se por um lado as ferramentas digitais, as redes sociais, virtuais, aplicativos, sites, programas de relacionamento e blablabla são facilitadoras para aprofundar a conversa e permitir encontrar afinidades, por outro deixou a desejar no encontro do olhar, no gosto do beijo, no cheiro da alma, na proximidade do contato e do abraço profundo, aquele que sentimos o coração do outro bater junto com o nosso. E andar de mãos dadas (e suadas de nervoso), comer pipoca no cinema fazendo barulho, ficar com vergonha e ruborizar, rir juntos ou atrasados da mesma piada??? Tem preço não! É lindo demais!!!
Não acredito em posições radicais e isoladas, mas alguma coerência e razoabilidade ajuda a dar crédito aos pretendentes virtuais. Aliás, gosto muito de variar tudo, posições, papéis, opiniões e é claro, contextualizá-las rsrsrs. Se por um lado as ferramentas digitais, as redes sociais, virtuais, aplicativos, sites, programas de relacionamento e blablabla são facilitadoras para aprofundar a conversa e permitir encontrar afinidades, por outro deixou a desejar no encontro do olhar, no gosto do beijo, no cheiro da alma, na proximidade do contato e do abraço profundo, aquele que sentimos o coração do outro bater junto com o nosso. E andar de mãos dadas (e suadas de nervoso), comer pipoca no cinema fazendo barulho, ficar com vergonha e ruborizar, rir juntos ou atrasados da mesma piada??? Tem preço não! É lindo demais!!!
Em algum momento, fiz uma intervenção que dizia a ela algo
do tipo: “então me preocupa você viver grande parte da vida atrás das celas do
computador e do celular”. Celas???? Eu disse celas!!! Sim, celas são prisões e
isso é privação de liberdade. Tudo que priva a nossa liberdade nos captura, nos
reduz, nos limita e é claro, afeta o mundo de possibilidades que poderíamos
viver, ver, escolher, sentir...
Enquanto estamos vidrados na celinha, ops, na telinha, a
vida passa a nossa frente e não sentimos, não vemos a presença do outro, nos
perdemos do real e ficamos imersos, mergulhados no mundo da imaginação, vivendo
mundos que desejamos estar, toques que queremos sentir, degustando desejos que
nos fazem salivar, viagens que sonhamos fazer e querendo ser amados por um ser
imagético que ao nosso lado não está. E se, perguntei a ela, no momento que
você está obcecada na telinha, o amor da sua vida passasse ao seu lado e você
nem o (re)conhecesse, ou melhor, nem se desse a chance de conhecê-lo???
Provoquei: a sua obstinação por conhecer alguém pelas ferramentas virtuais não
poderia cegá-la para o mundo real???
A porra do “E SE” sempre espreitando a nossa vida...
Quando as reflexões já davam loopings na minha cabeça e
antes que essas manobras acrobáticas de pensamentos detonassem por completo o
meu cérebro, achei rapidamente um papel e caneta pra escrever esses fragmentos dilacerantes que inundavam a minha
mente. Beleza, me salvei, vou elaborar, cheguei em casa, vou escrever assim que,
depois de encher o filhote de beijos, ele adormecer. Meu filho (de 7 anos) então, pede o celular emprestado e ao olhar
para a telinha do celular vidrado diz: “coitadinho de você Pou, eu estava lá
fora, no mundo sabe, vivendo?” É, vocês não sabem, mas o Pou é um serzinho que
parece um cocozinho, que toma banho, que tem sentimentos, que cresce, que troca
de roupas, que fica na moda, que come, enfim... Tipo um tamagotchi, se é que isso ainda
existe. É um ser “de verdade”, capitalístico e vivente como cada um de nós,
acho.
Puta que o pariu, eu pirei!!! Como assim??? Meu filho, tem
uma porra qualquer feia pra caraleeeeô com cara de cocô dentro do celular, do meu
celular, que ele estima e cuida, como se
um bichinho de estimação fosse e que, ele se justifica pela ausência pois “estava
lá fora, no mundo sabe, vivendo????????”. E o pior, me tornei avó de um ser virtual, sem saber, e nem simpatizei com ele.
Pára essa merda que eu quero descer. Ficou tudo esquisito!!!
As pessoas passam mais tempo na frente das “celas”, ops, das telas, teclando,
se comunicando, trabalhando, se divertindo, "namorando", se conhecendo, do que de
fato se experimentando, se ouvindo, se acariciando, se olhando, se energizando
de contato, se saciando de beijos, trocando o magnetismo das almas, sentindo
coração com coração.
Nada nada nada, nunca nunca nunca e, ainda bem, vai
substituir o brilho de um olhar, a doçura de um sorriso, um cheiro gostoso, um
beijo saboroso, um abraço intenso, um amor imenso, um sexo envolvente, a
presença da gente!
Que assim seja, com menos celas, teclas e telas. Mais
coragem, paisagem e calibragem, de cenas reais é claro!!! As reflexões de Deleuze nos ajudam a conduzir novos movimentos, traçando o vir-a-ser do futuro, através de ações revolucionárias, linhas de fuga, espaços de novos respiros, ares, lugares, em busca de novos sentidos e paisagens. Eis a revolução!!! Quais são suas linhas de fuga, das celas, das normas, do vigente, dos padrões? Eu quero "medianeras" (veja abaixo o significado), e você???
E pra quem é cinéfilo como eu, a minha dica pra
aprofundar a reflexão vai pro filme “Medianeras”. No Brasil o título ficou
conhecido como: “Medianeras: Buenos
Aires na era do amor virtual”.
Já
assisti 3 vezes. É um belo filme argentino que questiona e problematiza, de
forma bastante inteligente, a cultura virtual dos relacionamentos e mergulha no
tema solidão e todas as facetas das suas linhas de fuga. Pra quem não sabe, medianeras é o nome
dado a aberturas ilegais de janelas nos edifícios, também chamadas de paredes
cegas. Na Argentina é proibido por lei
abrir janelas laterais, mas as pessoas descumprem a ordem, em busca de mais
claridade, um apartamento mais arejado, em suma, de uma melhor qualidade de
vida.
Essa é a grande sacada e ponte que
o filme faz com a vida. Vale muito a pena assistir!!! A obra recebeu os prêmios
de melhor filme estrangeiro e melhor diretor no Festival de Gramado de 2011. Espero que
aproveitem!!!
Clausidinha,
ResponderExcluirLá em casa é proibido celular nas refeições. E, aliás, reclamo com todos os amigos nas mesas de bar, restaurantes e etc. Já cansei de ver uma mesa de 3 amigos e todos eles mergulhados em seus celulares. Será que acabouo papo? Povo emburreceu? Bjos Mari J.
Mari querida, faz muito bem!!! É bom receber a sua visita e ler os seus pontos críticos. Precisamos mesmo romper com alguns paradigmas, por mais atualizados que eles sejam. Realmente o uso da tecnologia não deveria concorrer com o olho no olho, o papo ao vivo e a roda de amigos! Beijos com saudades de você moça!
ExcluirClaudinha, Medianeras é sensacional. Achei o filme incrível e eu assisti no Cine Jóia, em Copa (uma salinha com 45 lugares, atmosfera incrível). Acho interessante mecanismos de conhecimento, mas imagino que as suas ressalvas quanto à veracidade daquilo que as pessoas mostram num primeiro momento se estende para qualquer tipo de situação, não só as virtuais... as virtuais mais ainda, ok.rs
ResponderExcluirEnquanto não ficarmos bitolados num mecanismo só, todas as alternativas e possibilidade, se bem usadas, são interessantes. Bjo Ariel
Amigo querido!!! Sim, o filme é ótimo! Amo, assisti 3 vezes e foi alvo de discussão no meu grupo do mestrado. Usar todas as ferramentas e possibilidades parece ótimo, só desejo que não façamos tentativas de substituições que são insubstituíveis. Não dá pra substituir a alegria e o som de um riso solto, um olhar divertido, envergonhado, sapeca, um abraço apertado, enfim... Ao vivo tudo deve ser no mínimo melhor que o mundo virtual, acho. Beijos.
ExcluirUm dos seus melhores textos Claudinha. Amplo, complexo, profundo, bem humorado, realista, cheio de conexões, uma verdadeira viagem. Gratidão querida!
ResponderExcluirLuciana Araujo
Linda!!!! Quanta saudade não cabe aqui te lendo!!! Obrigada pelas palavras de elogio e carinho. Vamos viajar então nessas reflexões em busca de relacionamentos cada vez melhores. Gratidão pela sua amizade e visita viu? Beijos Lu.
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